Admito que é difícil para alguém que não conheça, imaginar a paz e a tranquilidade que se sente debaixo de água a uns simples 15 metros de profundidade. O que proponho nestes 4 mil caracteres que se seguem é tentar partilhar essa sensação.
Imagine um prédio, como o novo bloco do hospital da Horta, e imagine que está no seu topo à superfície da água. Lá em baixo, junto à entrada do bloco, está o mergulhador, perscrutando os fundos marinhos. É essa a altura da coluna de água que separa o mergulhador da superfície.
Graças à impulsão que empurra o mergulhador para cima, o mergulhador pode “flutuar” na coluna de água, “voar” até ao terceiro andar e depois voltar ao rés-do-chão. É muito conveniente que, perto do final do período do mergulho, esvoace até ao último piso…
O sentimento de imponderabilidade que se usufrui neste “voo” subaquático é extraordinário. Pode dar cambalhotas, "fazer paraquedismo" ou ascender sem qualquer esforço. Aquela coisa dos pulinhos de quem anda na lua, tendo aquela ligeira sensação de ficar no “ar” durante algum tempo, é o quotidiano no mergulho com escafandro autónomo. Como extra, nesta má comparação com os astronautas, refira-se ainda que lá em baixo, na entrada do bloco, os peixes vêm observar o mergulhador com uma curiosidade tal que até parece que ele veio de outro planeta…
Tenho de salientar, no entanto, que no mergulho nem tudo são rosas. Por exemplo, as ascensões não podem ser rápidas e qualquer erro pode resultar em acidentes muito graves. São acidentes raros, mas acontecem e podem ser letais.
Para quem queira iniciar esta atividade, aconselho vivamente os chamados “batismos de mergulho” que as empresas de turismo subaquático ou a Marinha promovem. São simples e servem para ter uma primeira aproximação. Depois, se gostar, é continuar!
Quanto a mim, lembro-me perfeitamente que no meu primeiro mergulho, quando pela primeira vez coloquei um regulador na boca, tive que me concentrar para obrigar o meu corpo a inspirar. Esteve longe de ser automático…
Depois, outra sensação memorável que tive no mergulho foi quando a minha sinusite se extinguiu. Ao ascender dos 25 metros, durante o exame de mergulho, senti, de repente, um enorme alívio na face. Não liguei, até porque, a sensação de alívio, sendo boa, não era nada junto da novidade dos peixes, água, algas, fundos marinhos e da emoção. Quando saí da água reparei como todos me olhavam com espanto e preocupação. A minha máscara estava suja de um líquido cujas cores me escuso a descrever dada a sua repugnância. Desde então, desde os meus dezasseis anos, nunca mais tive problemas com inflamações dos seios perinasais.
Graças ao mergulho, em apenas uma semana, esta última, pude nadar com jamantas, ver fontes hidrotermais bem ativas a 40 metros de profundidade junto ao Faial e descansar o corpo na solidão subaquática que encontramos no sopé do Monte da Guia. Vi e fotografei animais que se encontram no limite da imaginação da maioria dos seres humanos e pude ter o privilégio de os partilhar de imediato (a fotografia digital dá uma boa ajuda). Hoje, o mergulho com escafandro autónomo dá-me uma paz e tranquilidade únicas e proporciona-me histórias e aventuras que tenho o prazer de contar aos meus filhos e, se tiver essa felicidade, aos meus netos. Aconselho vivamente!
Em resumo, os barulhos são diferentes; os movimentos são diferentes; o “voar” nesta “atmosfera” aquosa é diferente, até há quem lhe chame nadar; os organismos que nos rodeiam são diferentes; o calor é diferente, até há quem lhe chame frio; daí aventurar-me a dizer que o extremo do “sair cá dentro” é mergulhar no nosso magnífico oceano!
Da mesma forma que os astronautas devem ter sensações absolutamente únicas, o descobrir o meio aquático também é fantástico e radical. Uma grande diferença entre os dois é que o segundo está ao alcance de todos. Outra diferença é que o segundo permitir-lhe-á descobrir outros modos de vida enquanto o espaço exterior tem, basicamente, isso, espaço...